Ultimamente as palavras andam escassas e as ideias ainda mais secas. Onde estará a fonte, o jorro, o gozo?
Inverno, meus amigos.
E se o que não tem remédio remediado está - a primavera só começa às 06h04 do dia 26 de setembro... -, assim vamos seguindo, procurando alguma fresta por onde sopre uma brisa quente, algum contraste ao gelo que se forma aqui dentro e lá fora.
A estação não é a certa para o fenômeno, mas se tratando do extraordinário, até um veranico no inverno é possível. Veranico é a tradução para a expressão Indian Summer, que dá nome as duas músicas selecionadas para esse post. A primeira, que deve ser a mais conhecida, é uma composição de Jim Morrison e Robby Krieger, décima faixa do disco Morrison Hotel, lançado pelo The Doors em 1970.
Seguindo o argumento do veranico encontro o sentido que procuro na declaração do personagem da letra : o que ele sente por ela não se resume ao período que comporta um veranico. Esquecendo a questão climática, sinto na música uma sensação de conforto, a amenidade de um fim de tarde de verão: a vida fluindo sem maiores arroubos.
http://www.youtube.com/watch?v=yOKAQSGCm8Q
A segunda música é mais antiga, composta originalmente para piano por Victor Herbert em 1919. "Indian Summer" é um daqueles standards de jazz gravados por inúmeros interpretes. Abaixo uma das versões mais consideradas, interpretada pelo sax tenor de Colleman Hawkins.
http://www.youtube.com/watch?v=gDOXkDFr35M
Assim como outros standards, "Indian Summer" também ganhou letra. Cantada aqui por Sarah Vaughan acompanhada pela orquestra de Count Basie, a letra de Al Dubin ganha os contornos dramáticos de quem vê os momentos felizes escaparem, assim como o calor logo dá lugar ao frio nos veranicos de outono.